Secretário divulga números equivocados sobre arborização de Campinas
- Paulo Gaspar
- 22 de jan.
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Atualizado: 24 de jan.

De acordo com as declarações do secretário municipal de Serviços Públicos, Ernesto Dimas Paulella divulgadas pela reportagem do Correio Popular do dia 16/01/2025 “ a estimativa é que Campinas tenha entre 600 mil e 700 mil árvores plantadas em ruas e avenidas, considerando levantamento por satélite feito há oito anos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que quantificou a arborização viária.”

De acordo com o geoprocessamento feito pelos técnicos Ivan André Alvarez e Bruna Cristina Gallo da Embrapa realizado em outubro de 2012, o número total encontrado para a arborização urbana viária do Município de Campinas foi de 120.730 árvores, excluídas as mudas. Caso sejam incluídas as mudas juntamente com as árvores, os arbustos e as palmeiras, o número a ser considerado é de 127.367. Contudo, há um risco de redução na quantificação, com a inclusão das mudas, pois não há garantia de que elas efetivamente teriam sucesso no pegamento.


Segundo o secretário Paulella a Prefeitura de Campinas removeu nos últimos dois anos cerca de 600 árvores por apresentarem risco de queda. O engenheiro florestal José Hamilton Aguirre apontou desrespeito à legislação na supressão de árvores em Campinas. De acordo com ele, a lei municipal nº 11.572/2003 estabelece que para cada indivíduo removido, tem que ser plantados pelo menos 25 para reposição. E esta reposição tem sido feita na proporção de 1 pra 1. O que não é regra, porque a compensação ambiental de supressões não tem sido realizada em calçadas, aumentando ainda mais o déficit arbóreo em vias da cidade.
Para ele, o trabalho de poda feita em Campinas está longe do ideal. “O que estamos, como técnico da área, reparando é um aspecto bastante prejudicial do manejo que vem sendo realizado na cidade. É a poda drástica em massa dos exemplares viários”, afirmou. De acordo com o engenheiro florestal, é retirada toda a copa das árvores, deixando apenas o tronco. “O que preocupa muito hoje é o não plantio de árvores ou o plantio generalizado de espécies de pequeno porte e arbustos. Isso está deixando Campinas cada vez mais quente e suscetível aos desastres ambientais. A área urbana está virando uma grande bolha de calor”, afirmou.
Aguirre declarou ao jornal “PORQUE” de 17/01/2025 os benefícios das árvores adultas para o meio ambiente urbano, como sombreamento, retenção de água da chuva, redução de enchentes, purificação do ar e bem-estar humano. “A compensação com mudas pequenas é insuficiente, pois levará anos para que atinjam o mesmo potencial das árvores removidas. Essa demora prejudica diretamente o enfrentamento das emergências climáticas e o equilíbrio ambiental”, explica.
O especialista ainda critica a prática comum na cidade de substituir árvores frondosas por espécies de pequeno porte ou arbustos, o que, segundo ele, não atende às necessidades climáticas e sociais. “Campinas já foi referência nacional em arborização urbana, mas o que vemos hoje é a destruição contínua desse patrimônio incalculável. A sociedade e a imprensa precisam cobrar com vigor o cumprimento das compensações”, destaca.
José Hamilton também destaca que a arborização urbana vai além da simples substituição das árvores e que as árvores maduras possuem um papel essencial no ecossistema urbano, incluindo a regulação da temperatura, absorção de poluentes e promoção da biodiversidade. “A perda de árvores grandes não é algo que possa ser facilmente compensado, pois, enquanto as mudas crescem, muitos dos benefícios das árvores maduras são irremediavelmente perdidos. A arborização precisa ser vista como parte de um planejamento sustentável e estratégico, não apenas uma ação isolada para melhorar a paisagem urbana.”

Ele observou que a escolha das espécies a serem plantadas após a remoção deve ser criteriosa, levando em consideração as condições locais e os impactos climáticos. Espécies inadequadas ou de pequeno porte, comuns em algumas substituições realizadas na cidade, não contribuem para os desafios ambientais que a cidade enfrenta, como o aumento da temperatura e as enchentes. “Não é suficiente apenas plantar novas mudas; elas precisam ser adequadas ao ambiente e ao futuro que queremos construir, com foco na resiliência climática e na saúde da cidade”, conclui.
Paulo Gaspar foi presidente da Comissão de Arborização da Câmara Municipal de Campinas e durante os quatro anos do seu mandato (2021 a 2024) foi crítico severo do descumprimento da legislação de Arborização existente. Depois das 2 mortes que ocorreram em 2022 e 2023 decorrente da queda de árvores e acidentando várias outras, Gaspar solicitou abertura de uma CPI e protocolou representação no Ministério Público solicitando a urgência do inventário arbóreo geo referenciado de toda a cidade, para a identificação de espécies plantadas, seu estado de saúde e necessidade de manutenção ou extração do indivíduo analisado.
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A legislação de 2003 obriga a execução deste inventário fito sanitário, porém até os dias de hoje a prefeitura não executou. Existe apenas um levantamento fotográfico com localização de 10% das árvores da cidade no site da Secretaria de serviços públicos, que não pode ser chamado de inventário pois não apresenta nenhuma informação do seu estado fito sanitário e nem a data de quando foi feito o monitoramento das mesmas, o que é uma vergonha para uma metrópole como Campinas onde o empirismo se sobrepõe ao planejamento sustentável.
Além da prefeitura que não trabalha com planejamento em arborização e não respeita a legislação municipal, a ignorância de grande parcela da população de Campinas também é responsável pelo número reduzido de árvores nas calçadas. Muitas pessoas não querem plantar na frente da sua casa ou do seu comércio pois "faz sujeira" ou "tampa a fachada da loja" mas sempre que pode, procura estacionar seu carro debaixo da sombra da árvore do vizinho.
Assista o vídeo:
Não é possível tapar a realidade da arborização viária de Campinas. A Embrapa realizou a quantificação que o Secretário de Serviços Públicos, "apenas" multiplicou por 5, tentando inflar números, como tudo o que inventa. Campinas está um calor absurdo, com árvores decepadas pela CPFL, milhares sendo suprimidas pela MB Engenharia, agravando um gigantesco déficit de plantios e árvores, em calçadas. A Lei de Arborização de Campinas determina, pelo menos, 1 árvore a cada 10m de calçada, mas quando há plantios, o arbusto resedá, aroeira salsa e ipê amarelo de pequeno porte, são campeões. Não adianta repetir mentiras, quando a verdade é tão gritante...