Os "Penduricalhos" e a Dinâmica do Poder no Brasil
- Paulo Gaspar
- 20 de jan.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 3 dias

Os "penduricalhos" são benefícios financeiros recebidos por juízes, desembargadores, promotores, procuradores e uma parcela privilegiada de servidores públicos. Esses pagamentos não são considerados verbas remuneratórias/salariais, o que os exclui da incidência do teto salarial do funcionalismo público. O teto salarial dos servidores, será reajustado para R$ 46.366,19 a partir de fevereiro de 2025.
Um estudo do Banco Mundial revelou que os servidores públicos brasileiros recebem, em média, 67% a mais do que empregados da iniciativa privada com funções semelhantes, enquanto a média global dessa vantagem é de 16%.
Os "penduricalhos" podem incluir:
Auxílio alimentação
Auxílio saúde
Auxílio moradia
Ajuda de custo
Auxílio natalidade
Abono de permanência (pago a servidores que já podem se aposentar, mas continuam trabalhando)
Horas extras
Auxílio creche
Adicional noturno
Verbas indenizatórias (gratificação por exercício acumulativo, bônus para magistrados que atuam em mais de um juízo, férias não gozadas, entre outros)
Os gastos nacionais com o Judiciário e o Ministério Público equivalem a 1,6% do PIB, enquanto a média nos países europeus é de 0,3%.
Os gastos com o funcionalismo público no Brasil representam cerca de 14% do PIB, comparados a 6% no Chile e cerca de 9% na Austrália e nos Estados Unidos.
Integrantes do Judiciário e do Ministério Público concentram 70% do total de servidores que recebem remuneração acima do teto constitucional. A despesa média mensal por magistrado é de R$ 50,9 mil. Somando-se os penduricalhos, os contracheques de alguns magistrados podem passar de R$ 500.000,00 mil.
O subsídio de um deputado federal, senador e do Presidente da República será de R$ 46.366,19 à partir de 1º de fevereiro de 2025. Salários, auxílios e benefícios podem chegar a quase R$ 200 mil mensais. A soma de toda a verba que os parlamentares efetivamente recebem inclui salário mensal, auxílio-moradia e o direito ao ressarcimento integral de suas despesas com saúde (benefício que é estendido ao cônjuge e a dependentes de até 21 anos). Eles também têm direito à cota para o exercício da atividade parlamentar, que cobre passagens aéreas, hospedagem, combustível e outras despesas, além de verba para contratação de pessoal.
Esses privilégios só persistem devido à conivência e à ação conjunta entre os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. A nomeação para cargos estratégicos ilustra essa interdependência:
CNJ (Conselho Nacional de Justiça): Conselheiros indicados pela Câmara dos Deputados (1), Senado Federal (1), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) (2), Procurador-Geral da República (2) e Supremo Tribunal Federal (STF) (3: 1 desembargador, 1 juiz estadual e 1 juiz federal). As indicações são submetidas à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal, sabatinadas e aprovadas por maioria absoluta no plenário, com sanção final do Presidente da República.
TC/SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo): Quatro conselheiros escolhidos pela Assembleia Legislativa e três indicados pelo Governador.
TCU (Tribunal de Contas da União): Ministros indicados pelo Presidente da República (1/3) e pelo Congresso Nacional (2/3), com aprovação do Senado Federal.
AGU (Advocacia-Geral da União): Livre nomeação pelo Presidente da República.
PGR (Procuradoria-Geral da República): Escolha pelo Presidente da República e aprovação pelo Senado Federal.
TJ (Tribunal de Justiça): Desembargadores escolhidos pelo Governador a partir de lista tríplice.
STJ (Superior Tribunal de Justiça): Ministros escolhidos e nomeados pelo Presidente da República a partir de lista tríplice formulada pelo próprio tribunal, com sabatina no Senado Federal.
STF (Supremo Tribunal Federal): Indicação pelo Presidente da República e aprovação pelo Senado Federal.
STM (Superior Tribunal Militar): Nomeação pelo Presidente da República e aprovação pelo Senado Federal.
TSE (Tribunal Superior Eleitoral): Composto por no mínimo sete ministros: três do STF, dois do STJ e dois juristas indicados pelo Presidente da República.
Conclusão:
Qualquer mudança nesta estrutura, consolidada desde a Constituição Federal de 1988, começa pelas eleições municipais. Os vereadores eleitos são a base dessa estrutura e, no futuro, poderão se tornar deputados, senadores, prefeitos, governadores ou presidentes.
Em Campinas, a Câmara Municipal também possui seus privilégios. Em abril de 2023, os vereadores aprovaram o pagamento de 13º salário e férias anuais remuneradas, com acréscimo de 1/3 (um terço) sobre o valor do subsídio, a partir de 2025. Apenas quatro vereadores se posicionaram contrários à aprovação: Débora Palermo, Mariana Conti, Paulo Búfalo e Paulo Gaspar.
Além do subsídio de R$ 17.800,00 a partir de janeiro de 2025, os vereadores têm direito a carro oficial e combustível. Paulo Gaspar foi o único vereador na história de Campinas a abrir mão desses privilégios, gerando uma economia de R$ 1,1 milhão durante seu mandato (2021-2024).
No presente, são os mais de 60 mil vereadores brasileiros e seus respectivos partidos que influenciam as eleições municipais, estaduais e federais, pois a mobilização nos municípios, também conhecidos como "bases eleitorais", é que elegerá os representantes nas assembleias estaduais e no Congresso Nacional.
O segredo da mudança está no município. Você está satisfeito com os vereadores eleitos em sua cidade? Você acompanha o trabalho deles?
Somente o engajamento político do cidadão comum poderá nos tornar verdadeiros fiscais de nossos governantes.
Assista o vídeo:
Quer entender mais sobre como funciona os bastidores da política em Campinas e no Brasil? Acesse o link : https://www.paulogaspar.com.br/post/eles-n%C3%A3o-querem-que-voc%C3%AA-saiba
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