A Escalada da “Lacração” no Legislativo Campineiro
- Paulo Gaspar
- 10 de jan.
- 3 min de leitura
Atualizado: há 3 dias

A espetacularização da política é uma estratégia recorrente utilizada por líderes populistas. Historicamente, a população tem experimentado alta carga tributária sem o devido retorno em serviços públicos de qualidade, com exceção de grupos privilegiados.
Ciente desse descontentamento latente, líderes populistas exploram esse sentimento para ascender politicamente de forma aparentemente rápida. O advento das redes sociais intensificou essa dinâmica, oferecendo uma plataforma para a construção da imagem do "justiceiro contra o sistema", amplificando o alcance e o impacto dessa estratégia.
A polarização entre esquerda e direita, intensificada nas redes sociais a partir de 2013, impulsionou o surgimento de figuras que se destacam pela "lacração" virtual. Entre os exemplos mais conhecidos, temos o ex-deputado estadual de São Paulo Arthur do Val (conhecido como "Mamãe Falei"), o ex-vereador do Rio de Janeiro Gabriel Monteiro e o ex-vereador de São Paulo Fernando Holiday.
A prática da "lacração" já era associada à esquerda populista, tendo Lula como um de seus principais expoentes. Contudo, o fenômeno Bolsonaro popularizou essa estratégia também na direita, resultando no surgimento de diversos políticos que se apresentam como seus representantes.
Em Campinas, o vereador Nelson Hossri explorou essa polarização, utilizando o slogan "Eu sou a Voz da Direita em Campinas". De forma semelhante, o publicitário Vinicius Oliveira, recém-eleito vereador, adotou uma estratégia similar à de Gabriel Monteiro, personificando o "justiceiro contra o sistema". Durante a campanha eleitoral, Vini utilizou o sentimento de revolta da população com o sistema de saúde, realizando intervenções teatrais em hospitais e criticando profissionais de saúde e o prefeito. Essa estratégia resultou em grande repercussão nas redes sociais.
Já empossado, o vereador continuou com suas ações nos hospitais, o que levou o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) a solicitar a abertura de um procedimento ético junto à Corregedoria da Câmara Municipal de Campinas para apurar sua conduta. O Cremesp considera a ação do parlamentar no Hospital Mário Gatti invasiva e solicitou apuração, que pode resultar em cassação. Além disso, o Cremesp informou que solicitará a instauração de inquérito no Ministério Público para investigar possíveis irregularidades e o encaminhamento ao Poder Judiciário, com a possibilidade de solicitar medida liminar para evitar a repetição de tais condutas.
Como ex-vereador de Campinas, considero que, embora o artigo 31 da Constituição Federal preveja a fiscalização do município pelo Poder Legislativo Municipal, tal prerrogativa não autoriza a hostilização de servidores públicos ou a incitação da população contra eles. Reconheço a existência de irregularidades cometidas por alguns profissionais da saúde, como faltas e descumprimento de horários, mas discordo da generalização e estigmatização da categoria.
A complexidade do atendimento hospitalar exige uma abordagem mais construtiva. Durante meu mandato, realizei diversas visitas a hospitais e centros de saúde, sempre buscando informações de forma respeitosa, sem expor servidores ou incitar a população. As informações coletadas eram utilizadas para questionar o prefeito por meio de requerimentos (centenas foram protocolados), pedidos de abertura de CPI (presidi uma delas) e muitas representações no Ministério Público, sempre buscando soluções e não autopromoção.
Acredito que a fiscalização responsável não gera o mesmo engajamento nas redes sociais que as ações espetaculares. O vereador Vini, portanto, provavelmente continuará sua estratégia de estigmatização dos servidores e se vitimizando quando confrontado, buscando construir a imagem de um perseguido pelo sistema.
Espero que o vereador Vini estenda suas ações de fiscalização às dependências da própria Câmara Municipal e da Prefeitura, considerando que a transparência deve começar pela própria instituição. Sugiro que visite os gabinetes dos demais vereadores e do prefeito pra ver se estão trabalhando.
A história demonstra o destino de políticos que utilizam a "lacração" como modus operandi para ascender rapidamente na carreira política. Resta acompanhar os desdobramentos das ações do vereador e suas consequências para a política local.
Assista o vídeo:
Quer entender mais sobre como funciona os bastidores da política em Campinas e no Brasil? Acesse o link : https://www.paulogaspar.com.br/post/eles-n%C3%A3o-querem-que-voc%C3%AA-saiba
Muito bem colocada as suas palavras, apoie o Vinícius ao qual fizemos um acordo para trabalharmos juntos, porém o mesmo faltou com a palavra sem contar que fugiu ao planejado, que era legislar em prol da população e não ficar fazendo sensacionalismo, deixe de vir como candidato para apoialo porém estou decepcionado com o mesmo, pois a palavra estamos juntos para mim significa muito.
E quais foram os resultados dos requerimentos , da CPI e das representações no ministério público?
Não é competência de um vereador fazer vistorias ou fiscalizações in loco, para isso é preciso responsabilidade técnica e qualificação compatível com a atividade. O controle do legislativo é acompanhar a execução do orçamento do município e verificar a legalidade e legitimidade dos atos do governo. O resto é politicagem para lacrar nas redes sociais. Aliás, algum cidadão pagador de impostos que tente ir lá fiscalizar o gabinete do nobre vereador, será permitido?
E cada vez mais, criadores de conteúdo despreparados tentarão vagas na política, quando adquirirem uma leva expressiva de seguidores.
Tem quem gosta só de visibilidade, e tem aqueles mais conscientes que querem mesmo atuar para a população.
Excelente reflexão sobre o tema.
Infelizmente, a maioria da população não entende e não busca os melhores políticos..